Sobre o Amor


Diferentes Religiões

A mão de Deus que nos guarda é a mesma,

apenas estamos sentados em diferentes dedos.

Pai José de Aruanda

domingo, 17 de julho de 2011

Lá no meu tempo

Lá no meu tempo, nas lavouras de cana, nós tinha dois negros que eram os melhores...
Trabalhavam de sol a sol e ninguém conseguia fazer a tarefa tão bem quanto eles.
O senhor gostava demais dos dois, gostava do serviço que eles faziam.
Mas um deles fazia ainda mais que o outro.
O outro, que eu falo, sabia que ninguém cortava tanta cana e nem podia cortar. Mas eles tinham que produzir pra não ir pro tronco ou sofrer outro castigo. Então ele parava, as vezes, para buscar água pro povo. Por isso ele não cortava tanto quanto aquele outro, primeiro.
Mas o tempo passou, e eles não aguentavam mais a lida debaixo do sol, dentro do canavial, cortando os quintal de cana. E ficaram lá na senzala, tortos do trabalho, sem muito poder fazer.
E o primeiro, o que mais trabalhava e cortava, acabou morrendo cedo, logo depois que ficou encostado.
O outro ainda viveu muitos anos, sendo alimentado com o que os outros aparteavam da comida (porque o fazendeiro não alimentava negro que não trabalhava), mas viveu feliz... muito tempo.
O primeiro não aguentou a solidão. Ninguém conversava com ele e nem ele com ninguém. Mesmo a comida não lhe era muita. Amanheceu morto, desapercebido, sozinho, pouco tempo depois que se encostou.
E por que isso? Porque ele era o melhor, junto com o outro, mas só trabalhava e agradava seu senhor. E quando isso acabou, nem senhor, nem feitor lhe deu agrado, lhe deu valia.
O outro trabalhou muito, era muito bom no corte, agradou também seu senhor com tanta produção que dava, mas não esqueceu os seus. Tirava um tanto do seu tempo para ajudar com a água, aqueles que não podia parar, que se parasse ia dar falta da produção.
Esse era o melhor.                                                                                  
Quando sozinho, seu senhor e seu feitor não lhe fizeram agrado, que isso não era coisa de branco fazer com preto, inda mais preto sem valia pra lida. Mas os irmãos não lhe negaram. Davam prosa, dava alimento, dava a água que ele agora não podia buscar. Ele viveu muitos anos, esse preto nem se alembra quantos, e morreu arrodeado de gente. Sobrava mão pra segurar a sua.
Então, vocês, agora aqui nesta terra, se alembrem que vocês tem que ser os melhores, não importa em que trabalhem, tem que ser os melhores. Mas, ser o melhor mesmo é trabalhar por todos, por cada irmão. Isso, em qualquer tipo de trabalho é possível.


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